Karate (A Génese do Karate)

Karate (A Génese do Karate)

Especula-se muito sobre a génese do Karate, essencialmente desde o período em que Ghichin Funakoshi terá trazido os conhecimentos de tal arte da ilha de Okinawa. O modus como ele o institucionalizou no Japão poucas alterações sofreu até aos nossos dias, a não ser a difusão acentuada mormente pela prática generalizada do Kumite em sede de competição.
Correndo o risco de sermos altamente criticados pelos mais sapientes nesta matéria, que certamente acima de nós serão bastantes, com o Mestre Funakoshi, o Karate já se encontrava desvirtuado pela sua comercialidade, e para aqueles que possam eventualmente sentir-se mais sensibilizados com o termo, o facto é que foi ele que lhe atribuiu a “marca”, colocando o letreiro de ensino do “Karate-Do” frente ao local que viria a designar de dojo. Apesar de tudo, este Mestre, falecido em 1955, transmitiu os seus ensinamentos aos mais fiéis discípulos, como é o caso de Nakayama, concomitantemente professor de educação física de uma universidade em Tóquio, donde saíram campeões como o falecido e saudoso Kansho Kanazawa e o falecido Enoeda.
Estes discípulos, o referido Kanscho Kanazawa, Sensei Kase, etc., todos eles desenvolveram a partir do Shotokan uma prática específica, coadunável com as suas personalidades, atribuindo-lhes nalguns casos nomes diferentes do original, verbi gratia, o Shitoryu, o Wado-Ryu e o Goju-Ryu. Não estaremos enganados se dissermos que a organização de Karate mais importante do mundo é a JKA, surgida em 1949, à qual foi atribuída inicialmente a designação de Nihon Karate Kyokay.
O mundo do Karate aparece dividido nos anos 70 na arte coreana do Tae-Kwo-Do, famosa pela agilidade essencial dos membros inferiores, e a japonesa, o Karate tradicional, caraterizado pela firmeza de todos os seus ataques.
Em Portugal, tivemos pessoas consagradas pela sua proliferação através da prática e ensino constantes, designadamente Shihan Vilaça Pinto, Pete, e mais 2 ou três. Adaptaram-no à nova realidade social em termos organizativos, passando por uma estrutura bem organizada de conformidade com a própria legislação comercial e fiscal, num modus de obediência hierárquica intransigente, na criação de instalações condignas, na aposta em ações de formação, criação de dojos por todo o país, demonstrações públicas, etc.
De todo o modo, o busílis da questão está então na origem ancestral do Karate, ou seja, em período que antecedeu o Funakoshi. Apesar de toda a filosofia oriental que norteou o seu ensino, hoje praticamente esquecida, o Karate tem subjacente a defesa e a indiferença relativamente ao seu adversário. E defesa, porque foram as forças governamentais que de forma inconsciente induziram no povo a prática da arte do combate. Face aos ataques insistentes dessas forças, sem dó nem piedade, urgia a necessidade do povo criar o seu antídoto para se livrar do adversário, e daí a prática de movimentos de defesa com o conhecimento de décadas do ataque comum do adversário.
E s.m.o., os movimentos do Karate correspondem na sua generalidade aos movimentos efetuados pelos samurais no manejo da espada. Se tomarmos como referência a Tai kyoku Shodan e a Heian Shodan, os movimentos do Gedan-Barai, do Tsuki, do Age-Uke e Shuto-Uke, são executados como se os membros superiores fossem uma espada. Todos estes movimentos se refletem de uma ou outra forma ao longo de todos os Katas do Shotokan.
Há afirmações respeitáveis que dão a explicação das artes marciais através da cisão de religiões, compreendendo-se assim a filosofia do Buda na posição de reflexão, sendo obrigatoriamente e apenas usadas as mãos e os pés nas lutas entre aquelas fações religiosas, prevalecendo sempre a força da mente sobre o corpo. Mas muitos anos mais tarde, os monges que sempre foram respeitados pela prática daquelas artes de combate, acabaram por as abandonar.
Também se afirma que o Kara-te (vazias-mãos) surgiu do boxe chinês, onde recebeu o nome de Kempo.
Na ilha de Okinawa, onde predominava o poder chinês, o Kempo começou a ser praticado pelos habitantes, conforme já havíamos anteriormente afirmado noutro contexto. Governados por um imperador altamente severo, este proibiu a utilização de armas, veiculando por tal razão aqueles à prática do Karate (com mãos e pés nus). Julga-se que foi com a perspicácia desta arte marcial que mais tarde a ilha passou a pertencer aos japoneses, tornando-se numa prática restrita, porquanto os seus utilizadores reconheciam a sua superioridade física. Muitos mestres surgiram antes de Funakoshi, mas é efetivamente este o considerado pai do Karate hodierno, que para nós já é Karate tradicional.
Contrariamente ao que se possa pensar, a prática das artes de defesa não deixa o praticante mais forte, a não ser pela sobredita e mencionada omissão. Por isso, existe um provérbio oriental que solenemente citamos “O homem é uma espada desembainhada, mas a melhor das espadas é a que fica na sua bainha”. Nestas circunstâncias, a defesa em tal perspetiva nem sempre surtia os seus efeitos, pelo que urgia a necessidade do contra-ataque que passou de igual modo a cultivar-se.
Foi com este pensamento, embora apenas em 1980, que o espanhol Carlos Munoz afirmava que “El Karate es, además, un buen sistema de autodefesa que nos dará una grande sensación de seguridad em nosotros mismos, lo que se refljará en todos nuestros actos y pensamientos”.
(António Soares da Rocha)

Sobre António Maria Barbosa Soares da Rocha

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