Conversava ontem com um amigo, por coincidência enfermeiro no Hospital Santos Silva, de Vila Nova de Gaia, e tornou-se enriquecedora a troca de impressões, sendo que um dos lados tem afinidade específica e efetiva com a área da saúde.
Concluímos, que o modo de tratar os pacientes nem sempre é curial, sendo não raras vezes, desprovido dos mais amplos princípios de natureza moral, ética, deontológica e social.
Concluímos ainda, que os médicos, ou eventualmente enfermeiros, a quem imputamos práticas de tal índole, não fazem um juízo de prognose póstuma, o que configura um ato de deformação profissional. Todos existimos, todos temos família, e nem isso nos leva a pensar, que existe a suscetibilidade de que um dia se poderão inverter os termos da situação.
Ora, na continuidade da conversa, fiz o relato de duas situações que se passaram comigo, no Hospital da Luz-Arrábida, onde fui submetido a duas intervenções cirúrgicas, uma aos joelhos, e outra ao nariz. No que concerne à primeira, ocorrida no ano de 2005, constatou-se apenas no momento da intervenção, ou seja, depois de todos os exames de diagnóstico, incluindo ressonância magnética, que o joelho esquerdo não necessitava de qualquer intervenção! E o médico perguntou:
– António! Isto tem apenas uma plica! Queres que tire?
Respondi:
– Se isso não é preciso para nada, podem tirar!…
Conclusão: neste joelho, a intervenção foi rápida. Porém quando me foram operar ao direito, esqueceram-se do garrote no esquerdo, o que me viria a provocar uma tromboflebite. No ano subsequente, tive de ser operado novamente, sendo que o esquerdo era, e ainda continua a ser, o que tem mais fraco desempenho. Em conversa com um familiar ortopedista, este disse “As plicas não se retiram!”
E a saga continuava… No ano de 2008, exatamente no mesmo estabelecimento hospitalar, ex vi de rinite alérgica, há um professor universitário, que resolve operar-me ao nariz, convencendo-me com o seu apregoado sucesso. Danificou-me os incisivos, e como esta operação fora efetuada sob anestesia geral, não sei que mais me terá feito! ABRENÚNCIA!
Em 2015, senti a necessidade de fazer alguns exames de diagnóstico, e o otorrinolaringologista não fugiu à regra. Desta vez escolhi o meu ancestral otorrino, chefe do sobredito professor universitário, que imbuído das suas comuns, simplicidade, competência e humildade, me diz em tom relevante:
– Eu não lhe tinha dito que a rinite alérgica não se opera?!!!
A ouvir a conversa entabulada entre mim e o enfermeiro, estava outro amigo, médico no IPO, que veementemente criticou médicos que têm comportamentos reprováveis no foro oncológico, utilizando com ênfase a expressão «negligência grosseira», e a do cirurgião que sempre dizia “É para operar”.
Com toda a pujança reitero “Isto é de bradar aos céus!”
Estamos numa sociedade que deixou de considerar o animal como “coisa”! Mas não deixamos a sociedade que trata o ser humano como objeto! E todo o profissional da saúde não deve esconder-se sob a capa da legis artis, sendo que a assunção da verdade é que faz de si o verdadeiro ser!